sexta-feira, janeiro 23

There is no future (?)

Bem, mais uma vez o assunto começa com um filme. Uma animação, pra ser mais específica, e da minha adorada Pixar - Wall-E. Confesso que quando do lançamento dele nem fiquei sabendo e, se vi alguma imagem, cartaz ou o nome espalhado por aí, nem percebi que era da Disney/Pixar (do contrário teria feito um esforço mínimo pra ir ao cinema). Bem, antes tarde do que nunca. Hoje finalmente assisti.

Não gosto de escrever sinopses de filmes e isso se deve ao simples fato de que tampouco gosto de lê-las, mas para explicar o meu pensamento aqui vai uma breve introdução à historinha: o planeta Terra tornou-se inabitável devido à poluição e os humanos passaram a viver numa super nave espacial que tem tudo (tudo mesmo!), tornando todos sedentários e blablabla. A medida deveria ser provisória, pois enquanto todos viviam no espaço robôs (os wall-e) limpavam as coisas por aqui. No entanto, passam-se 700 anos e nada. Apenas um robô "sobrevive" na Terra e continua seu trabalho, coletando objetos que ele considera interessante. Um dia chega um outro robozinho (que mais tarde descobrimos ser robozinhA) em missão para descobrir vida no planeta (que, aliás, está um caos).

Bem, a questão é que fiquei pensando sobre todos esses futuros apocalipticos que são retratados em filmes. O futuro vai ser sempre pior do que agora. Não em um ou dois aspectos, mas em todos. Nada do que hoje parecem ser avanços da ciência ou estudos culturais que levam a uma maior tolerância quanto às diferenças (embora isso seja contestável... mas vamos lá) desembocam, na visão de todos os que produzem mídias sobre o porvir, em algo positivo. O mundo vai congelar ou inundar, alienígenas com sede de destruição virão nos punir, uma praga vai contaminar a grande maioria da população mundial, computadores e robôs vão se revoltar e passar a escravizar os humanos e por aí vai. O mais irônico de tudo isso é que geralmente a culpa cai toda em cima dos avanços tecnológicos, que atualmente são a glória pra todos e despertam ataques a cada inovação ou lançamentos de novos produtos (vide iPhone, que virou febre de consumismo). Deus também tem sua parcela de responsabilidade sobre as catástrofes. De acordo com muitos religiosos ele está nos punindo por tudo de errado que temos feito, num tipo de segunda rodada da Operação As 7 Pragas do Egito. Se for castigo de Deus, eu tenho um pedido: não pode ser algo estilo Sodoma e Gomorra? Tem tanta cidade aí que pode ir pros ares... Comece por Washington, por favor.

Isso me leva à outra questão que me surgiu durante o filme. A tal estação/nave é um paraíso. Climatizada, intensidade de claridade de modo a simular as diferentes partes do dia e, claro, a noite estrelada (isso, creio eu, não era simulado, já que estavam navegando pelo espaço). E se todos nasceram e cresceram ali, o mundo que conhecem é aquele. Por que então a necessidade de condenar? Por que um mundo criado pelo homem parece menos estável? A própria Terra fica girando por aí, de milhões em milhões de anos (ou bilhões?) se aproxima mais do Sol ou se afasta, causando alterações climáticas que afetam diretamente a vida terrestre. Ou seja, ela também não é a fonte da certeza. Mas ninguém sabe de onde ela surgiu, como foi que ela se tornou o que é hoje, de onde vieram as plantas, os animais, a água. E talvez seja essa incerteza, a necessidade de acreditar em uma força maior do que as nossas, de algo maior do que a ciência é capaz de explicar, é que nos dê uma certa esperança ou segurança. O homem não criou isso tudo, e afinal de contas a Terra tá aí desde sei lá quando... E, mais importante de tudo, nós não sabemos exatamente como ela funciona. Por outro lado, aquilo desprovido de mistérios torna-se sem graça e, principalmente, deixa muito claras as falhas.

O futuro é incerto e misterioso. Poderíamos ver nele, então, menos falhas, não é?

---Esclarecimento sobre o título do post: referência a letra da música "Finale B (No Day But Today)" do musical Rent.

*Ao som de The Who - We Won't Get Fooled Again

quinta-feira, janeiro 22

Mensagem pra você

Dentre os meus vários prazeres condenáveis está, como muitos sabem, o filme Mensagem Pra Você. Não que os atores sejam os meus preferidos do mundo (porque eu não gosto da Meg Ryan - a não ser por outra comédia romântica, Harry & Sally - nem do Tom Hanks - a não ser por Big, Quero Ser Grande), mas aí está uma combinação muito fofa, na qual as pessoas se apaixonam não pela aparência, não pelo que fazem juntos, mas simplesmente por emails trocados anonimamente, além dos ambientes aconchegantes no meio de Nova York. Claro, devemos lembrar que história é uma adaptação de um clássico do cinema, A Loja da Esquina, nos tempos do preto e branco e de comédias e romances que não poderiam ser classificados de outra forma além de inocentes.

Enfim, cá estou eu, vendo mais uma vez este filme e me deleitando com os acontecimentos dos quais o desenrolar eu já conheço tão bem. E ainda aproveitando a trilha sonora, na qual nunca tinha prestado atenção mas que agora se revela como mais um elemento agradável.

O ponto, no entanto, não era inicialmente tecer tantos elogios (creio que isso foi mais uma justificativa, uma tentativa de demonstrar as qualidades do filme e tornar aceitável o fato de eu gostar dele), mas abordar um tema que me fez pensar logo nos primeiros minutos. Já que ambos os personagens resolvem não falar nada de específico sobre suas respectivas vidas, a conversa tem o dom de ser extremamente descompromissada. Assuntos aleatórios surgem, o tipo de comentários que fazemos somente pra nós mesmos, dentro de nossas mentes, mas que nunca julgamos bons o suficiente pra contar pra alguém. O que não percebemos geralmente é que são exatamente esses pensamentos as coisas mais interessantes, pois são percepções, são conclusões ou questões sobre futilidades que dizem tanto sobre uma pessoa... ou que despertam nosso próprio pensamento. Várias vezes me deparo com o problema de surgir com um assunto, tanto para conversar com pessoas avulsas como para escrever aqui no blog e geralmente o que me queima por dentro é que, se não consigo falar sobre algo, quer dizer que minha vida é vazia, sem significado, sem acontecimentos, desinteressante. A verdade é que, embora eu não viva da maneira mais agitada possível e tampouco tenha muitas histórias para contar, eu ainda tenho minhas opiniões e minhas pequenas percepções de fatos do cotidiano que podem ser ditas. E ter essa possibilidade de dizer que importa.

segunda-feira, janeiro 5

You must love me

A leitura atual da minha vida tem sido um Balzac, Ilusões Perdidas. Uma frase me chamou a atenção outro dia:

"O que torna as amizades indissolúveis e lhes duplica
o encanto é um sentimento que falta ao amor - a certeza."

De forma geral acho que tenderia a concordar. Afinal de contas, o que torna o fato de amar alguém normalmente doloroso é o medo de não ser correspondido. E o que acaba geralmente com relacionamentos? O não demonstrar os sentimentos esperando que o outro o faça primeiro, provocando a impressão mútua que não existe ali sentimento mútuo. Ou seja, falta a certeza.
 
No entanto, se falarmos de amizade será que a coisa muito? Bem, acredito que realmente a amizade conta com mais certezas. Nunca nos sentimos intimidados de dizer a um amigo que o amamos - ou seja, por pra fora o sentimento não é lá o problema, concluindo que sim, temos certeza da reciprocidade. Mas não estaria justamente aí a questão? O ponto fraco da relação? Confiar demais? A meu ver talvez a confiança nos leve a imaginar ali um pilar que não existe, ou com o qual pelo menos não se pode contar pra qualquer coisa a qualquer hora. No final das contas tudo se resume ao interesse pessoal. Enquanto um for útil ao outro a coisa anda. Quando não se precisa mais, descarta-se - ou, no caso dos mais espertos e frios, guarda-se pra depois.
 
Seria a amizade, assim como o amor, também uma ilusão que será perdida?

*Ao som de Brooke White - You Must Love Me (da trilha sonora de "Evita")

quinta-feira, janeiro 1

Feliz ano novo!

Resoluções? Champagne estourado à meia-noite? Sete ondinhas puladas? A tal da simpatia com caroços de uva da qual nunca me lembro como é feita? Whatever...