Bem, após 4775193748629034571093,015 dias sem atualizar, resolvi que era hora de voltar, não é? Afinal de contas, não posso abandonar leitores que tanto prezam este humilde mas altivo blog e que, em muitos casos, dependem da leitura constante dele pra que possam sobreviver nesse mundo irracional.
Tendo dito estas sábias palavras, voltemos à rotina de refletir sobre os fatos do cotidiano. Este, em particular, já faz um tempo que quero compartilhar com outras pessoas, porém a falta de tempo (que, se vocês bem se lembram, há alguns posts atrás eu reclamava que tinha de sobra) me havia impedido de fazê-lo. Pois bem:
Algumas vezes o ônibus é um ótimo local para se refletir. Outras, é só um motivo para reclamar. Num dia em especial ele foi a razão para que me ocorresse o inusitado pensamento: "Ei, até que pegar ônibus lotado tem lá suas vantagens". Devo confessar que o começo da "viagem" não indicava em nada que eu terminaria com essa idéia: era uma sexta-feira à tarde e, ao invés de voltar pra casa, eu já tinha ido à aula, corrido no Centro pra enfrentar um Procon e estava indo outra vez para a universidade, onde me esperava uma longa tarde ainda. Adicione o calor e a roupa nada favorável ao clima que eu usava. E à tudo isso, claro, o ônibus lotado. Tão lotado, de fato, que não era possível passar da catraca, e eu me vi obrigada a ficar na parte da frente. Levando em consideração que se tratava de um ônibus que tem escrito de todo tamanho na frente "UFMG", deduz-se que todos os que se aventuram naquele ninho só podem ser estudantes que têm o tal local como destino.
É então que eu vejo uma velhinha. E outra velhinha. E outro velhinho. O que diabos estava acontecendo, eu não entendia, mas já fui ficando p* da vida porque os pequenhos idosos, que têm passe-livre e podem pegar quantos malditos ônibus quiserem, estavam justamente em um veículo que muitos outros pobres coitados estudantes eram obrigados a pegar e ainda pagar para tal (diga-se de passagem bem caro). Estou eu mergulhada nesse pensamento, quando vejo a velhinha se encolher toda na cadeira pra apenas uma pessoa e chamar sua cumádi pra sentar também. "Oh, que gracinha!", pensei, "mas bem que podia ter feito isso em outro ônibus, né?". E lá vou eu, com a melhor cara mal-humorada possível, refletindo sobre a vida, o universo e tudo o mais.
E de repente me chega aos ouvidos o melhor diálogo já ouvido por mim (provavelmente; agora não estou me lembrando de todos):
- Aí eu falei com o dentista pra fazer outra. Aquela apertava e esquentava, parecia que minha boca tava pegando fogo!
- Ah, tá certa, essas coisas tem que olhar direito, mesmo. Quanto tempo você tá com essa?
- Ah, desde 2002.
- Tá nova, então, né?
- É... Mas ela tá com uns defeitinhos, tá vendo? Esse dente aqui, ó.
- Mas dentadura tem que ser assim, mesmo. Se ficar muito certinha dá pra ver que é dentadura. É melhor quando tem um dente torto, meio separado...
A outra fez uma cara mais ou menos concordando, mas não parecia nem ter acompanhado o raciocínio da colega de década de nascimento.
Eu ainda fui tentando pensar em como elas tinham chegado naquele assunto: será comum na velhice? Será que os tópicos principais são quem morreu, dentadura, peruca, conta de farmácia e os suspiros de "Ah, já não se fazem coisas como antigamente"?
Embora não justificasse o fato das duas vovós estarem num ônibus tipicamente povoado por estudantes (e isso elas não eram: cadê os livros, cadernos e reclamações quanto ao bandeijão e reitores?), àquela altura eu já estava de certa forma satisfeita por ter podido escutar a conversa.
Elas desceram em frente à Faculdade de Odontologia.
*Ao som de Fernanda Porto e Chico Buarque - Roda Viva
Tendo dito estas sábias palavras, voltemos à rotina de refletir sobre os fatos do cotidiano. Este, em particular, já faz um tempo que quero compartilhar com outras pessoas, porém a falta de tempo (que, se vocês bem se lembram, há alguns posts atrás eu reclamava que tinha de sobra) me havia impedido de fazê-lo. Pois bem:
Algumas vezes o ônibus é um ótimo local para se refletir. Outras, é só um motivo para reclamar. Num dia em especial ele foi a razão para que me ocorresse o inusitado pensamento: "Ei, até que pegar ônibus lotado tem lá suas vantagens". Devo confessar que o começo da "viagem" não indicava em nada que eu terminaria com essa idéia: era uma sexta-feira à tarde e, ao invés de voltar pra casa, eu já tinha ido à aula, corrido no Centro pra enfrentar um Procon e estava indo outra vez para a universidade, onde me esperava uma longa tarde ainda. Adicione o calor e a roupa nada favorável ao clima que eu usava. E à tudo isso, claro, o ônibus lotado. Tão lotado, de fato, que não era possível passar da catraca, e eu me vi obrigada a ficar na parte da frente. Levando em consideração que se tratava de um ônibus que tem escrito de todo tamanho na frente "UFMG", deduz-se que todos os que se aventuram naquele ninho só podem ser estudantes que têm o tal local como destino.
É então que eu vejo uma velhinha. E outra velhinha. E outro velhinho. O que diabos estava acontecendo, eu não entendia, mas já fui ficando p* da vida porque os pequenhos idosos, que têm passe-livre e podem pegar quantos malditos ônibus quiserem, estavam justamente em um veículo que muitos outros pobres coitados estudantes eram obrigados a pegar e ainda pagar para tal (diga-se de passagem bem caro). Estou eu mergulhada nesse pensamento, quando vejo a velhinha se encolher toda na cadeira pra apenas uma pessoa e chamar sua cumádi pra sentar também. "Oh, que gracinha!", pensei, "mas bem que podia ter feito isso em outro ônibus, né?". E lá vou eu, com a melhor cara mal-humorada possível, refletindo sobre a vida, o universo e tudo o mais.
E de repente me chega aos ouvidos o melhor diálogo já ouvido por mim (provavelmente; agora não estou me lembrando de todos):
- Aí eu falei com o dentista pra fazer outra. Aquela apertava e esquentava, parecia que minha boca tava pegando fogo!
- Ah, tá certa, essas coisas tem que olhar direito, mesmo. Quanto tempo você tá com essa?
- Ah, desde 2002.
- Tá nova, então, né?
- É... Mas ela tá com uns defeitinhos, tá vendo? Esse dente aqui, ó.
- Mas dentadura tem que ser assim, mesmo. Se ficar muito certinha dá pra ver que é dentadura. É melhor quando tem um dente torto, meio separado...
A outra fez uma cara mais ou menos concordando, mas não parecia nem ter acompanhado o raciocínio da colega de década de nascimento.
Eu ainda fui tentando pensar em como elas tinham chegado naquele assunto: será comum na velhice? Será que os tópicos principais são quem morreu, dentadura, peruca, conta de farmácia e os suspiros de "Ah, já não se fazem coisas como antigamente"?
Embora não justificasse o fato das duas vovós estarem num ônibus tipicamente povoado por estudantes (e isso elas não eram: cadê os livros, cadernos e reclamações quanto ao bandeijão e reitores?), àquela altura eu já estava de certa forma satisfeita por ter podido escutar a conversa.
Elas desceram em frente à Faculdade de Odontologia.
*Ao som de Fernanda Porto e Chico Buarque - Roda Viva