segunda-feira, janeiro 5

You must love me

A leitura atual da minha vida tem sido um Balzac, Ilusões Perdidas. Uma frase me chamou a atenção outro dia:

"O que torna as amizades indissolúveis e lhes duplica
o encanto é um sentimento que falta ao amor - a certeza."

De forma geral acho que tenderia a concordar. Afinal de contas, o que torna o fato de amar alguém normalmente doloroso é o medo de não ser correspondido. E o que acaba geralmente com relacionamentos? O não demonstrar os sentimentos esperando que o outro o faça primeiro, provocando a impressão mútua que não existe ali sentimento mútuo. Ou seja, falta a certeza.
 
No entanto, se falarmos de amizade será que a coisa muito? Bem, acredito que realmente a amizade conta com mais certezas. Nunca nos sentimos intimidados de dizer a um amigo que o amamos - ou seja, por pra fora o sentimento não é lá o problema, concluindo que sim, temos certeza da reciprocidade. Mas não estaria justamente aí a questão? O ponto fraco da relação? Confiar demais? A meu ver talvez a confiança nos leve a imaginar ali um pilar que não existe, ou com o qual pelo menos não se pode contar pra qualquer coisa a qualquer hora. No final das contas tudo se resume ao interesse pessoal. Enquanto um for útil ao outro a coisa anda. Quando não se precisa mais, descarta-se - ou, no caso dos mais espertos e frios, guarda-se pra depois.
 
Seria a amizade, assim como o amor, também uma ilusão que será perdida?

*Ao som de Brooke White - You Must Love Me (da trilha sonora de "Evita")

2 comentários:

ANKH PRODUÇÕES disse...

Faltou 1 trecho da trilha do You're a Good Man, ouuuu 'Que Puxa, Charlie Brown'.
Se estiver em BH vai nos ver em fevereiro, ok?
Abraços

marthacomth disse...

Olévia, "rent" tem te afetado muito! Particularmente eu acho que a amizade funciona numa lógica completamente diferente do amor. E inclusive envolve um "pilar" diferente. E essa coisa de interesses é muito maniqueísta - em última instância, tudo são interesses; isso leva a uma explicação circular, eu acho.

Não que eu tenha a resposta, pelo contrário. Meu comentário é mais uma "resposta" ao que o seu post me fez pensar.

E discordo do Balzac tb. Oi, que sou eu pra discordar de Balzac? É por isso que vou discordar dele usando o Salman Rushdie, em cujo livro eu li o que considero a melhor e menos brega explicação sobre o amor: falando sobre um cara que pela primeira vez se sentiu amado, disse que "pela primeira vez ele se sentia seguro, seguro como uma casa" (ou algo assim, pq estou citando de cabeça). Vc não precisa da incerteza pra continuar amando alguém.. Pelo menos é o que eu acho.

Mas whatever. Beso.